farta de todo o luxo a que se habituara, cidália teria cedido aos encantos de um jovem rústico.
marcado pela exposição diária às intempérides, jorge tinha a pele de um castanho Luis Vitton, marcado por rugas de expressão, como uma boa mala usada.
nada fazia cidália sentir-se mais viva do que a ida semanal ao campo para o encontro amoroso. mais do que as duas ou três horas de convívio íntimo, agradava-lhe o percurso. a autoestrada, seguida da estrada nacional e finalmente da estrada de terra batida. isso sim, fazia-a sentir-se viva.
era durante o caminho que perspectiva toda a sua vida, a relação que mantinha com carlos havia anos, as amigas que lhe ocupavam as restantes tardes, a vida que levava. tudo parecia poder continuar sem ela. como um cenário para o qual teria contribuído logo no início, mas que havia tempos já não lhe dizia nada.
a rudeza e a simplicidade de jorge, para além de a enternecerem, davam um novo elan à sua vida. vivia agora com um sentimento de controlo e de aventura. escondia um segredo que efectivamente ninguém estava interessado em descobrir, mas ainda assim, sentia-se viva.
o problema destes escapes semanais era a melacolia que trazia consigo, a par das batatas e corgetes com que jorge enchia a bagageira do seu carro. uma solidão que lhe gelava a alma. mas só então cidália sentia que a tinha.
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1 comment:
Belíssimo.
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